Semana passada compartilhei na
minha página no Facebook uma imagem que retratava a parcialidade do Juiz Sérgio
Moro e de outros magistrados que atuam na operação Lava-jato. É um tema
polêmico mas, não é possível esconder as evidências, já que as atitudes estão escancaradas na mídia. “Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir”, sabe do que eu falo.
A imagem que compartilhei causou forte
reação por parte de muitos que me acompanham nas Redes Sociais.
Trata-se de uma representação dos últimos momentos do sofrimento de Jesus: à
sua direita está um condenado sofrendo em sua cruz; à esquerda, vê-se outra
cruz sem ninguém. Vendo-se sozinho ao lado de Jesus, o ladrão pergunta: “E o
outro ladrão?” Ao que Jesus responde: “É filiado ao PSDB. O Sérgio Moro mandou
soltar...”
Inteligente denúncia! Mas de repente, veio "do nada" uma avassaladora verborragia insana que acusava-me de ser um
padre petista, comunista, idólatra, herege, “abortista”, “uma vergonha para a
Igreja”; o mais veemente defensor dos ideais políticos de Bolsonaro, apontou: você é um padre que “não serve à cruz de Cristo mas serve à foice a ao
martelo de Marx”; “Ele é tudo, menos sacerdote”, dizia empolgada uma “amiga”
facebookiana.
Como você pode ver, as acusações a mim presenteadas não se conectam. Mas não vim aqui me defender. Meu objetivo aqui é refletir um pouco e dar minha interpretação sobre a arte
da charge para que os que me criticam abram os olhos e guardem sua animosidade
ou a transfiram para outro foco.
A princípio, a arte não precisa de explicação.
Está posto na imagem que um dito juiz soltou um prisioneiro como prêmio por pertencer
a um determinado partido político. Nomeadamente o autor nomeou o PSDB, que
poderia também ser do PMDB e de outros partidos.
A denúncia subjacente na arte nos
faz olhar para a realidade de hoje e detectá-la. Ajuda-nos a refletir até que
ponto há correspondência com a situação do país. E, ao ve-la, não tem
como não entender, porque é o que se observa quase que diariamente.
Mas algumas pessoas, não querendo
admitir a realidade expressam ódio e rancor através das palavras, numa atitude
que beira o fascismo. Em grande parte são pessoas que se dizem cristãs, e
que em nome dos princípios religiosos reprovam o compartilhamento que fiz com o
argumento de que isso é heresia ou que isso seria um desrespeito ao sofrimento
de Jesus.
Na imagem não há nenhum viés de
desrespeito à figura de Jesus ou a quaisquer ensinamentos. Se Jesus estivesse no Brasil vivendo como homem, seria de novo perseguido
por pessoas religiosas e assassinado com outros irmãos, enquanto os verdadeiros
criminosos seriam isentados dos seus crimes. A imagem traz no olhar sofrido de
Jesus a tristeza de saber que continua acontecendo condenações e livramentos
injustos.
O desenho publicado não atinge em
nada a dignidade de Jesus e dos cristãos. Pelo contrário, traz uma oportunidade
para refletir sobre a veracidade da denúncia. Aliás, qualquer pintura que
mostra Jesus na cruz, já é em si uma denúncia inquestionável de uma injustiça
costurada pelos poderes político e religioso daquela época. Para entender isso,
basta ler qualquer livro de catequese básico.
Muitos cristãos não aceitam discutir
religião e política. O argumento é que Jesus não pode ser misturado ao mundo
sujo da política, isso seria uma profanação. É como se Jesus só estivesse no
Sacrário e não continuasse sendo desrespeitado, maltratado e violentado todos
os dias. Ora, Jesus foi vítima de políticos salafrários como os que vemos nos
dias de hoje. Ele foi um preso político e nós cristãos, por nossa omissão
política contribuímos com a profanação contínua de Jesus nos irmãos. Jesus tem um
lado nessa situação, é o lado da gente sofrida pela injustiça de quem
deveria fazer justiça. E se Ele solidarizou-se com os mais fracos e sofredores,
é no lugar dEle que devemos estar. Quem lava as mãos e rejeita a politica e se
arvora de estar do lado neutro, saiba: este é o lado de Pilatos que o demônio
soube bem utilizar para implementar o seu plano.
Enfim, não existe blasfêmia
alguma nesta charge. Pelo contrário, há uma denúncia sobre uma determinada situação política do país. Enquanto houver no Brasil a criminalização de
partidos e pessoas ligadas a um determinado seguimento (esquerda ou direita)
sem que os processos de outros corruptos sequer se iniciem, irei compartilhar o
que for preciso e denunciar. Pois quem sofre com a parcialidade da justiça são
os mais pobres, como sofreu Jesus. Foi por Ele e para Ele que fiz a minha
Consagração, meu combustível não é aprovação ou ibope, mas a fidelidade a Jesus
e à sua causa. O resto é lixo, como disse São Paulo.