sexta-feira, 15 de março de 2013

Bergoglio: o cardeal que não tem medo do poder


Bergoglio: o cardeal que não tem medo do poder

“Poderia ter sido papa. No entanto, em seu mais íntimo, desejava que não votassem nele”.

(Quarta, 29 de julho de 2009: vejam a data desta matéria.)

“Poderia ter sido papa. No entanto, em seu mais íntimo, desejava que não votassem nele”
Naquele 19 de abril de 2005, o dia em que Joseph Ratzinger foi eleito para suceder  João Paulo II, o nome de Jorge Mario Bergoglio circulava com peso entre aqueles que se animavam a fazer previsões sobre o resultado da eleição do conclave. Ratzinger foi eleito após quatro votações, com 84 votos dos 115 cardeais presentes, e seu adversário não foi o cardeal progressista Carlo Maria Martini, como se dizia, mas sim o arcebispo de Buenos Aires.
A reportagem é de Any Ventura, publicada no jornal La Nación, 26-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
 Ele chegou a receber, no terceiro escrutínio, 40 votos. Martini só alcançou nove votos na primeira votação. O mais votado, depois de Ratzinger, foi finalmente Bergoglio. O arcebispo de Buenos Aires, o argentino nascido no bairro de Flores, em 1936, ficou com 26 votos na quarta rodada, de acordo com a revista italiana Limes.
"Ele nunca quis que o enviassem a Roma, sempre quis ficar em seu país", afirma Andrea Tornielli, vaticanista do Il Giornale. O padre Guillermo Marcó responsável pela Pastoral Universitária do Arcebispado de Buenos Aires, recorda seu encontro com Bergoglio naquele dia, no Vaticano, quando o conclave terminou. "Ele sempre dizia: `Reze por mim". Eu comentei: "Eu nunca rezei tanto por você como nesses dias". Ele me respondeu: "Eu te agradeço. Nunca precisei tanto de uma oração como na terça-feira de manhã". Não esclareceu do que se tratava. Os cardeais estão proibidos de falar sobre a eleição.
O homem que precisa de orações é o mesmo que não tem medo do poder político. Nos últimos anos, as declarações públicas de Bergoglio sobre as grandes questões sociais incomodaram os governo do momento, traçaram diagnósticos sobre a infância e a pobreza, marcaram alertas sobre o futuro do país. Ele falou daqueles "que se encaixam no sistema e aqueles que sobram, por culpa das contradições". Disse que na rua há "crianças escravas" e que a disputa política é "a grande doença dos argentinos".
Não é que Bergoglio não goste do poder. Mais: ele o desfruta em seu cargo. O que particularmente não lhe interessa é se sentar com os poderosos.
As fontes próximas ao cardeal dizem que a relação com os Kirchner não é ruim: é péssima. Ele nunca recebeu Néstor Kirchner durante sua presidência. Os membros mais elevados do governo pediram reiteradas audiências, mas não queriam aproximar-se do arcebispado. O cardeal esclarecia que, se ele queria falar com o presidente, ia à Casa de Governo, e que, se o presidente queria falar com ele, ele tinha de ir ao arcebispado. "Os Kirchner queriam Bergoglio aparecesse indo à Casa Rosada. Ele jamais se prestou a isso nos quatro anos de gestão, e as relações foram mais frias e duras. Claro que, quando se encontram, há cordialidade porque são educados", diz um dos seus colaboradores.
Segundo Fortunato Mallimaci, sociólogo da Universidade de Buenos Aires, pesquisador do CONICET [Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas] e especialista em assuntos religiosos, "o que deslocou a relação com os Kirchner foi a forte presença das organizações de direitos humanos. A chave é que, na sociedade argentina, o político e o religioso são pensados juntos. Não é só se dedicar à oração. Então, cria-se uma democracia muito tutelada, e, quando o Governo tem de tomar decisões sobre educação sexual, métodos anticonceptivos, quantidade de filhos ou prevenção da Aids, ele tem que se consultar com a Igreja. Em muitas sociedades, a profunda crise de representatividade dos partidos políticos que não são capazes de dar respostas às pessoas faz com que os grupos religiosos ocupem um lugar que ninguém teria imaginado há alguns anos".
A questão dos direitos humanos sempre foi controversa em relação a Bergoglio. "Ele salvou Alicia Oliveira (atual defensora social) de ser desaparecida pela ditadura. E quando se encontrou com [Jorge Rafael] Videla [ex-ditador argentino], foi perguntar-lhe sobre os padres", diz Pe. Marcó.
Diana Rocco, metodista, professora de História da UBA e especialista em história antiga da Igreja, acrescenta: "Bergoglio, por exemplo, tem boa relação com a Igreja Metodista, por ser defensor dos direitos humanos desde sempre".
Falar dos pobres

São 15h30 de uma segunda-feira. Passaram-se apenas duas horas desde que deixamos uma carta no arcebispado solicitando-lhe uma entrevista. O telefone toca. - Fala o padre Bergoglio – diz o homem do outro lado da linha. Agradeço seu interesse, mas sair em uma revista seria um ato de vaidade.
José Mario Bergoglio, um dos 183 cardeais da Igreja Católica, está acordado desde as 4h da manhã. Tem um pequeno livrinho, que guarda no bolso, no qual anota a ordem de suas audiências. Aqueles que o conhecem bem não se lembram de algum chamado que ele deixou sem resposta.
"Meu pai sempre dizia que quando você está subindo deves ir cumprimentando a todos, porque são os mesmos que você vai encontrar quando começar a descer", disse ao padre Guillermo Marcó no dia em que João Paulo II proclamou-o cardeal em 2001.
Alguns integrantes da Companhia de Jesus relembram com certo ressentimento sua passagem por essa ordem religiosa em tempos de violência política na Argentina, quando Bergoglio, que havia sido ordenado em 1969 e chegou a ser provincial de 1973 a 1979, exerceu sua autoridade com dureza. Durante os anos 70, a Igreja Católica viveu uma grave crise interna da qual a Companhia de Jesus não esteve isenta.
"Essa crise interna foi desencadeada depois do Concílio Vaticano II e após a reunião de todos os bispos da América Latina, em 1968, em Medellín, onde se ratificou a idéia de deixar o Estado e os regimes de segurança e ir aos pobres. Bergoglio não estava de acordo com essa postura. Catolizar-se e militarizar-se fazem parte da ideia da maioria dos membros do Exército e da Igreja Católica. Bergoglio era contra os sacerdotes que faziam trabalhos nas vilas, por lhe parecerem muito politizados", diz Mallimaci.

Setores próximos a Bergoglio relativizam esse pensamento. Dizem que, na realidade, Bergoglio queria que os sacerdotes fizessem trabalhos de sacerdotes, e não de líderes políticos. E insistem que na Companhia de Jesus existia uma obediência férrea: a ordem vinha de Roma, e a de Bergoglio não era uma decisão pessoal.
Aqueles eram os tempos do padre [Carlos] Mujica. A crítica mais forte que Bergoglio fazia ao mítico cura villero [padre que atua em vilas] é que ele tinha viajado junto com o general Juan Domingo Perón quando o ex-presidente voltava de Puerta de Hierro. Eram tempos em que se falava de usar a violência para conseguir um mundo mais justo. Pensamentos, para Bergoglio, incompatíveis com o Evangelho. A decisão de retirar os padres das vilas de emergência se relacionava com a aquela situação histórica particular. Hoje, porém, muitos dos sacerdotes que trabalham nas vilas de emergência reivindicam esse mesmo homem, sem deixar de defender também o padre Mujica. Padres como Pepe Di Paola, da Equipe de Sacerdotes para a Pastoral das Vilas de Emergência, que apresentou neste ano um duro documento sobre a droga em zonas marginais, tem uma relação excelente com Bergoglio.
As posturas em torno a esse assuntos são díspares. "Os jovens sacerdotes das vilas obtiveram o documento sem pedir a Bergoglio. Se há alguma coisa evidente na Igreja Católica é a crise de autoridade", diz Mallimaci. Segundo confessam em privado, alguns curas villeros, antes de cada coletiva de imprensa, nos dias em que o assunto dominou a atenção da sociedade, concordaram com o cardeal sobre o que seria dito e em que tom.
"Os sacerdotes enviaram primeiro o documento por e-mail a todo o clero e, no dia seguinte, fizeram uma coletiva de imprensa. É uma forma de recuperar a mística de uma Igreja embarrada", disse o padre Alejandro Russo, secretário do Vicariato da Pastoral da Arquidiocese de Buenos Aires. "Aqueles que enchem a boca falando dos pobres não suportam que o arcebispado de Buenos Aires nunca tenha deixado de estar presente nas vilas. E os curas villeros sempre estiveram integrados à vida diocesana", afirma.
De castigado a premiado

Ele é muito austero em sua forma de ser. Escolhe alimentos saudáveis e sadios e toma um copo de vinho de vez em quando. Gosta de fruta, de frango sem pele e de saladas. Salvo exceções, como aquela vez em que comentou com humor: "Que bom! Vou para um convento de freiras comer bagna cauda".
Por rotina e, a menos que tenha algum previsto, Bergoglio almoça e janta sozinho. Não aceita sair para comer, não come em nenhum lugar que não seja na Cúria. Não fica para comer nas paróquias. Não vai comer na casa de uma família.
Tem bom senso de humor, é simpático, tem inteligência e engenhosidade. É rapidíssimo, gosta das respostas rápidas e se diverte quando diz alguma coisa engraçada e alguém lhe responde. Na verdade, sempre tenta ser claro, mas suave, mesmo quando tem que corrigir alguém. Conhece muitíssimas pessoas e tem amigos. São amizades muito francas e de todos os setores, não só da Igreja.
Mas é difícil debater com Bergoglio, que sempre foi um homem de caráter. Pode-se utilizar o maior repertório de argumentos do planeta, mas se ele já tem uma ideia na cabeça, discutirá com todo o clero e, depois, fará o que achar melhor, esteja onde estiver.
Depois de ser provincial dos jesuítas, na Argentina, o enviaram para Córdoba para que fosse, simplesmente, confessor em uma igreja. Nessa missão, estava, segundo explicam pessoas próximas a ele, a profunda ideia de voltar ao exercício comunitário, de não dar lugar à vaidade ou à busca do poder humano, especialmente porque o que importa é a ordem, a congregação, a Igreja, e não pessoas.
O padre Alejandro Russo indica que ter destinado Bergoglio para Córdoba "provinha da idéia de deixar que o novo provincial tivesse mais espaço para se desenvolver".
Outras versões dizem que, pelo contrário, Bergoglio foi castigado. Que a congregação o castigou por ter entregue a Universidade del Salvador para os leigos. Era uma universidade que estava "ideologizada", que tinha tomado uma posição terceiro-mundista, ou de esquerda. Contam que estava tão castigado então que abriam sua correspondência e que ele permanecia praticamente confinado.
Muitos ficaram surpresos com o fato de Bergoglio ter se convertido no arcebispo de Buenos Aires. Quando, em 1992, o cardeal Antonio Quarracino o nomeou bispo auxiliar da arquidiocese, ele era pouco conhecido. Segundo Mallimaci, "falava-se do bispo de Paraná, Dom Karlik, presidente da Conferência Episcopal, como herdeiro de Quarracino. Mas Karlik parecia ser muito espiritual, muito desligado dos partidos políticos e de tudo o que tinha a ver com o Estado".
A escolha do Bergoglio como arcebispo, em 1998, foi revolucionária. Até então, era necessário que o arcebispo de Buenos Aires tivesse passado pelo cargo em alguma outra cidade do país. Não se respeitou "o escalão", dizem alguns. Foi uma decisão oportuna do cardeal Quarracino, dizem outros. O então cardeal já estava doente e mais velho e nomeou Bergoglio como arcebispo coadjutor com direito a sucessão.
Os outros

Qual é o carisma, a atração que torna Jorge Mario Bergoglio tão interessante? Em primeiro lugar, sua grande espiritualidade; é um homem de oração profunda que pode encarnar o divino no humano.
Ele tem essa dimensão "eclesiológica", de acordo com os sacerdotes que mais o conhecem, para explicar em Bergoglio a união entre o celestial e o terreno. Uma visão da Igreja que se pode notar na Pastoral. O cardeal tem uma doutrina teológica claríssima, da melhor ortodoxia, mas, por outro lado, transmite o dinamismo que traz o frescor do pedido do povo de Deus. Sabe fazer uma simbiose daquilo que as pessoas precisam e do que a Igreja propõe.
Costuma haver, no entanto, curtos-circuitos com os sacerdotes. Existem padres que o questionam por nunca ter sido pároco e que, por isso, não consiga compreender a realidade profunda em que um padre que está na barricada vive. Embora gaste muito tempo ouvindo jovens religiosos, Bergoglio nem sempre pode cumprir com as promessas que faz a eles. Tem dificuldade de delegar o poder.
Ele sabe muito bem aonde quer chegar. Aqueles que o conhecem bem dizem que o poder não o deixa nervoso. Também lembram gestos comovedores seus, como aquela vez em que soube de uma família boliviana que estava desabrigada, moveu céus e terra para lhes conseguir um lugar, até que finalmente tirou dinheiro do seu bolso para que se instalassem em uma casa. Andrea Sánchez Ruiz, professor de teologia da UCA [Pontifícia Universidade Católica Argentina], diz: "É uma pessoa muito cálida e acessível. É amável, mas tem clareza de que diz o que quer dizer, e não mais. Em geral, não fala sobre sua vida pessoal".
Os bispos auxiliares estão acostumados com seu conceito de "funcionalidade", como dizem aqueles de seu entorno. Quando ele escolhe alguém para uma função, ele lhe dá participação e mantém com essa pessoa um trato permanente, mas não lhe dá muita liberdade.
A professora

Da sua janela, ele é testemunha de todos os acontecimentos políticos do país que tem como cenário a Praça de Maio. Bergoglio vive, sozinho, no segundo andar do edifício da Cúria, ao lado da Catedral. Trata-se de um apartamento de 400 metros quadrados, uma casa magnífica com móveis antigos e quadros do século XVIII. Todos os dias, das 4h às 7h da manhã, o cardeal dedica três horas para meditação. Às 7h, já recebe pessoas, tem reuniões. Às 12h30, servem-lhe um almoço rápido. Descansa uns 50min e, às 13h15, já está no escritório para iniciar o trabalho da tarde, quando continuam as audições e as reuniões. As audiências são esgotantes, uma pessoa sai, entra outra, e ele atende e atende...

Muitos livros de espiritualidade e teologia se encontram em uma grande biblioteca, em frente ao seu quarto. Ali também há um aparelho de DVD e uma máquina de escrever elétrica, já que ele não lida com o computador. Otilia e Elisa, que são suas secretárias, imprimem todos os e-mails e lhe entregam.
Bergoglio caminha pelo corredor quando reza o rosário. Ele gosta de futebol e é torcedor do San Lorenzo. Ocasionalmente, o arcebispo deixa a Cúria, toma o metrô e se dirige para outros bairros da cidade. Sobe em um ônibus e se apresenta em uma ou outra vila para abençoar novos refeitórios populares, para administrar o batismo, para celebrar a festa do santo. Às vezes, muito poucas, fica para comer com eles as sopas que cozinham em enormes panelas. Depois, vai para alguma paróquia rezar uma missa pelas festas de padroeiros, ou por um ato especial. E vai dormir muito cedo.
Até 2006, ocupava-se ordenadamente em escrever para Estela Quiroga, sua professora de Primeiro Grau na Escola Nº. 8, Distrito Escolar Nº. 11, de Flores. Ambos mantinham uma correspondência sistemática. Ele lhe contava cada coisa que conseguia, cada conquista. E a convidou especialmente quando foi ordenado sacerdote. Ela o queria como a um filho. Faleceu de pneumonia aos 96 anos, no dia 16 de abril de 2006. Era a professora do sacerdote Jorge Mario Bergoglio, nascido na cidade de Buenos Aires no dia 17 de dezembro de 1936, filho de um trabalhador ferroviário e de uma dona-de-casa.
Baixo perfil

Aqui, na Argentina, quando lhe telefonam em um feriado pela manhã, ouve-se de longe o rádio com música clássica ou tango. Ele descansa com música clássica ao seu lado. Não sai de férias, não vai a lugar nenhum, exceto quando viaja para Roma, a trabalho. Ele gosta de caminhar pela capital italiana e tomar ristretto nas cafeterias, apoiado no balcão.
Costuma passar longos períodos, em janeiro ou fevereiro, em que não atende ninguém durante dez dias. Nesses períodos, ouve música e lê os clássicos. Não sai da Cúria. Na realidade, a leitura é uma atividade à qual dedica muito tempo, de Jorge Luis Borges até Leopoldo Marechal, passando pelos clássicos da literatura universal. No entanto, sem dúvida, o autor de "Adám Buenosayres" e de "El banquete de Severo Arcángel" é seu preferido.
Tem uma precisão na linguagem que provém de seu mestrado em Literatura. Costuma adotar uma palavra como motivação e a emprega de forma constante e reiterada. Neste momento, essa palavra é "paradigmático".
De acordo com seu círculo íntimo, ele costuma ir se confessar na Igreja de El Salvador, e já o viram na fila do confessionário de um jesuíta idoso. É frequente vê-lo com um sobretudo preto, para não fazer ostentação da chamativa vestimenta dos purpurados. Quando o Papa o proclamou cardeal, não comprou uma vestimenta nova, mas ordenou que ajeitassem a que seu antecessor, Quarracino, usava.
Há lojas eclesiásticas em Roma, como a Euroclero, que é mais econômica, ou a Gamarelli e Barbiconi, que são mais caras. Na Argentina, as Pias Discípulas são as únicas que têm ornamentos litúrgicos e roupas. Bergoglio gosta dos ornamentos litúrgicos de boa qualidade. Compra-os em Roma, geralmente. E o altar de prata maciça da catedral foi encomendado por ele a Pallarols.
Ele não gosta de fazer "circo". É inimigo de que façam "lobby" ao seu redor. Não celebra na catedral a missa da Ceia do Senhor e o Lava-Pés a cada Quinta-Feira Santa, mas vai a diferentes casas, ao Centro da Droga ou ao Hospital Garrahan
Ele gosta de estar entre as pessoas. Em Corpus Christi, quer que a procissão seja feita ao redor da Praça de Maio. Quer que o Santíssimo Sacramento saia e se misture com as pessoas, e que as pessoas o arrastem.

Bergoglio não gosta nem mesmo que o chamem de cardeal. Ele quer que o chamem, simplesmente, de padre. Andava de transporte coletivo e fazia sua própria comida...
 

CF 2013: Recriar o sentido da vida e as relações com Deus


A terceira parte do texto-base da CF, oferece indicações e propostas para ações em prol do protagonismo da juventude. O que fazer para ajudar a juventude neste tempo de mudanças? Já falamos que o primeiro ponto do texto é a atitude de conversão aos jovens. O segundo ponto, oferece “propostas de ações para que os jovens possam contribuir para com a construção de uma civilização geradora de vida e abundância às pessoas, segundo o plano de nosso Deus para o seu povo”. E isso acontece primeiramente com uma atitude de “abertura ao novo” para recriar as coisas e situações.
Para abrir-se às novidades, é preciso “recriar o sentido da existência e da realidade”. Todo ser humano sente necessidade de encontrar um sentido para a sua vida. Esta é a questão primeira, principal “a ser enfrentada por toda pessoa durante sua existência no mundo”. Quem sou eu? De onde vim? Onde estou? Porque nasci? Para onde estou caminhando? O que será de mim após a morte? Quando a pessoa busca o sentido de sua vida, ela vai encontrar luzes para saber quais os caminhos a seguir, “quando e por que se sacrificar, quais os valores a defender, o que esperar da vida e o que buscar no outro”. Portanto, é preciso considerar que o sentido da vida não deve ser buscado apenas por tradição ou por imposição. É preciso “compreender que cada um não poderá fazer o que quiser ou o que julgar mais cômodo ou adequado para si mesmo”, na vida. É necessário também “valorizar o esforço de cada um para descobrir o sentido da existência em seu próprio contexto, em diálogo com sua própria tradição e com as demais que venham a conhecer”.
Outra atitude importante nessa abertura para “o novo” é “recriar relações significativas com Deus”. Nessa busca do sentido da nossa existência, a pessoa “descobre que não é fruto do acaso e que sua existência não está largada ao sabor do destino”, em suas reflexões ela descobre que existe alguém que tudo criou e tudo governa. “Para nós cristãos, esse ser transcendente e onipresente é Deus que ama e se comunica com todos”. E é preciso testemunhar a fé nesse Deus Criador de tudo e de todos e, especialmente reconhecer a dignidade de toda pessoa humana.
Mas, o que fazer para professar essa fé de discípulo-missionário e reconhecer a dignidade da pessoa humana? O texto aponta três atitudes:
- A primeira atitude: “Viver de modo a testemunhar que todo ser humano é, depois de Deus, o que há de mais sagrado entre todas as obras da criação”. É o mandamento do amor que me pede respeitar o próximo no mesmo nível que eu desejo que ele me respeite; assim como eu desejo ser amado, respeitado, viver feliz e realizado, também preciso ver no outro essa imagem de Deus que precisa ser amparada, respeitada, cuidada, redimida, perdoada.
- Segunda atitude: “respeitar as manifestações de fé dos não batizados, por meio do diálogo e do serviço, e anunciar, pelo testemunho de comunhão, a graça de encontrar Jesus; respeitar a liberdade de culto e os sinais sagrados de outras religiões”. Há pessoas que se colocam acima das outras, se dizem puras de pecados mas excluem aqueles que não são do seu grupo religioso; outras chegam até a abandonar membros da família porque participam de outras denominações religiosas. Podemos até não concordar com a escolha que a pessoa fez, mas essa pessoa é uma criatura de Deus, feita a sua imagem e semelhança e precisa ser aceita e valorizada naquilo que é.
- Terceira atitude: “demonstrar entusiasmo por pertencer à Igreja e participar com alegria de suas atividades”. É muito bonito quando encontramos na Igreja pessoas animadas, sonhadoras e criativas. Elas fazem um bem enorme e além disso, envolvem, contagiam, atraem outras pessoas, são sinais da presença e ação do Espírito Santo na comunidade. Pessoas assim, incentivam outras a recriarem suas relações com Deus.
Hoje, nós vimos duas atitudes importantes para essa abertura tão necessária para o outro: “recriar” o sentido da existência e da realidade e “recriar as relações significativas com Deus”. O que mais devemos recriar? Amanhã vamos dar continuidade ao tema. Fique na graça do Pai e na proteção de Nossa Senhora. Até amanhã!
Ir. José Torres, CSsR.

(CF 2013 - Fraternidade e Juventude: Terceira Parte, “Abrir-se ao outro”, p. 91 - 93).

quinta-feira, 14 de março de 2013

CF 2013: Abertura da sociedade aos jovens


Vejamos algumas sugestões práticas para que este movimento importante da CF dê frutos para a Igreja, incluindo, valorizando e motivando os jovens para conhecerem mais a Igreja e assim, comprometer-se com ela. Ontem, conversamos sobre a conversão “aos jovens”, que é a primeira indicação que o texto faz: nossas paróquias e comunidades precisam organizar suas pastorais aos jovens para que eles se sintam chamados, acolhidos, encontrem respostas para as suas questões existenciais e se lancem como protagonistas na construção de um mundo melhor, o Reino de Deus. Hoje, vamos tocar em outros dois pontos importantes nesse tema da conversão aos jovens.
O primeiro ponto é a “abertura da sociedade aos jovens”. Já falamos muito aqui sobre a necessidade de a Igreja fazer a sua parte na acolhida aos jovens, mas outros núcleos da sociedade também precisam dar a sua colaboração, “aproximar-se do mundo juvenil, de sua realidade cheia de feridas e de belezas, de sua potencialidade e de sua criatividade, de sua cultura e de seus modelos de existência”. Os pais, os educadores, as lideranças sociais devem estar nessa luta e precisam acordar para esse desafio de conversão: abrir-se a realidade dos jovens, oferecer a eles elementos que despertem o seu protagonismo. O Estado também tem o seu principal dever: de “defender a vida desde o início, no ventre materno, até o seu fim natural.” E essa defesa da vida é a “única garantia de uma sociedade justa e fraterna”. E como o Estado vai garantir isso? Desenvolvendo políticas públicas que deem atenção aos jovens; investir neles, facilitar o acesso “aos estudos, aos campos científicos e aos meios de comunicação digital; dar condições dignas de moradia, de trabalho, de lazer, de saúde e de formação humana e afetiva”.
Não se escreve a história de uma sociedade livre, justa e solidária sem que se ouça a voz da juventude. Basta olhar o passado e vamos ver que a juventude estava presente nas revoluções da sociedade brasileira, desde a ditadura militar, nos processos de formação da Democracia, na política, na Igreja... Não há outra possibilidade, é preciso contar com a contribuição da juventude. Dialogar “com a as novas gerações é indispensável para atravessarmos com segurança e com bons frutos essa impactante mudança de época”.
Nesse tema da conversão aos jovens, o segundo ponto que o texto-base traz, trata do papel dos “jovens protagonistas da evangelização e artífices da renovação social”. O texto lembra o profeta Isaías que “foi chamado a profetizar sobre uma estrutura social cristalizada”, sem mudanças, sem novidades, com mentalidade ultrapassada, “que se mantinha em um ciclo contínuo de injustiça”. O povo achava que as estruturas daquela época poderiam garantir a sua sobrevivência, o povo estava cego e não conseguia perceber a “face do verdadeiro Deus”. E o jovem Isaías, consegue enxergar longe, “vê além”, não fica rodando atrás da mesmice e das comodidades que as estruturas oferecem, ele “apresenta uma nova estrutura para a sociedade”. Isaías vislumbra novas esperanças. E é interessante ver que as grandes mudanças do “cenário mundial” nos dias de hoje são feitas por pessoas idealistas, “de corações cheios de espírito de renovação e que têm capacidade de ler os sinais dos tempos”.
As grandes “utopias levantadas pelas revoluções culturais e sociais” que apareceram no século passado, parecem estar falidas. E hoje, quais os sonhos da juventude, quais são os seus ideais, projetos, desejos do jovem de hoje? “É necessário fazer o jovem acreditar novamente em um projeto coletivo, encontrando novos espaços para a solidariedade”. Para isso, “a escuta à juventude é um ponto de partida essencial para a construção do diálogo entre a Igreja e o mundo contemporâneo”. A Igreja sem o jovem continuará sendo uma estrutura necessitada de renovação, de criatividade.
Mas é importante lembrar que a jovialidade não reside na idade, mas na capacidade de transformação, de conversão, de criar o novo, de pensar além do que se vê, de superar as estruturas velhas e renovar seus mecanismos, de propor novos caminhos, como fez Isaías. A gente encontra por aí, muitos jovens parados, sem criatividade, pensando para trás, mais ligados no passado, sem se lançar para o futuro, enquanto muitos adultos e idosos continuam criando novidades e demonstrando juventude em tudo o que faz. Pense nisso!
Amanhã, vamos continuar nossa conversa tocando nesse mesmo assunto, a abertura para o “novo”. Que Deus renove as estruturas do seu coração no dia de hoje. Até amanhã!

Ir. José Torres, CSsR.

(CF 2013 - Fraternidade e Juventude: Segunda Parte, “Protagonismo dos Jovens”, p. 88 - 91).

quarta-feira, 13 de março de 2013

CF 2013: Indicações para ações transformadoras: Conversão aos jovens


Antes de continuarmos nossa conversa sobre o texto-base, vamos relembrar o caminho que nós já fizemos até agora. A primeira parte do texto-base fala especialmente sobre a situação dos jovens nesse tempo de grandes mudanças na sociedade. A segunda parte, apresenta os jovens como modelos de protagonistas desde o AT, passando pela história da Igreja até os dias de hoje. E agora iniciamos a terceira parte que faz indicações ou propostas para que o protagonismo juvenil aconteça na Igreja.
A primeira indicação desta terceira parte é a conversão aos jovens. “A conversão pastoral é uma atitude de auto-avaliação e de coragem para mudar as estruturas pastorais obsoletas da Igreja, para que ela seja cada vez mais, geradora e discípulos missionários comprometidos com a vida de todos”. Toda instituição que deseja crescer, progredir, avançar, deve ter a humildade de receber críticas para poder converter, mudar, refazer os caminhos e continuar. A conversão pastoral que se pede aqui, não é uma “mudança externa, metodológica ou de marketing”, mas é uma “conversão interior”, que brota do Ressuscitado.
“O Documento de Aparecida pede que escutemos a voz do Espírito Santo”. Este mesmo espírito nos pede que olhemos os sinais dos tempos, pois já é hora de uma conversão pastoral voltada para o acolhimento dos jovens. É tempo de organizar uma pastoral que oriente os jovens “a conhecer, a amar e a abraçar a Igreja”, e assim possam auxiliá-la na sua missão. Quando o jovem se envolve com a Igreja e a conhece por dentro, ele abraça a missão e quando necessário, vai saber defende-la.
Essa conversão pastoral precisa “levar nossas comunidades a oferecer acolhida substanciosa e oportunidades de participação aos jovens, auxiliá-los no processo de busca de respostas significativas para a existência e para sua fé: ‘quem é Jesus Cristo? O que significa acolhê-lo, segui-lo e anuncia-lo? O que há em Jesus Cristo que desperta nosso fascínio, faz arder nosso coração, leva-nos a tudo deixar e, mesmo diante das nossas limitações e vicissitudes, afirmar um incondicional amor a Ele?’” (CNBB: Diretrizes da Ação evangelizadora da Igreja 2011-2014, n. 4).
Essa conversão pastoral deve “ecoar em nossas estruturas eclesiais” para que os jovens sejam acolhidos de verdade, pois, do contrário, a juventude vai continuar abandonando a Igreja e vão criar “seus mundos isolados”, sem nenhum acompanhamento. Podemos dizer que esse afastamento da vida eclesial, a “violência, mortes e exclusões ocorrem, porque muitas de nossas estruturas eclesiais não abrem suas portas para acolher a realidade e a cultura dos jovens, entender a linguagem deles, cuidar do seu processo de amadurecimento, curar-lhes as feridas”.
Mas, quais são as urgências da evangelização da juventude? Quais as realidades juvenis em que a Igreja deve priorizar em seu trabalho? É especialmente para aqueles “que estão em grave situação de risco”. Além desses, é preciso dar atenção aos “inúmeros jovens desempregados; sem qualificação profissional; sem acesso ao sistema de ensino e à educação para os novos tempos; envolvidos como crime organizado e com o tráfico de drogas; viciados em substâncias tóxicas; sem estrutura familiar sólida; vítimas de violências; em depressão e com falta de sentido na vida; consumistas e hedonistas; sem fé e sem experiência religiosa significativa; sem clareza da sua vocação e sem motivações para as opções fundamentais; carentes de princípios e valores que iluminem seu amadurecimento afetivo; indispostos para a gratuidade diante do próximo; inconsequentes no uso dos meios de comunicação e das redes sociais; omissos diante das injustiças e das explorações e apáticos ao processo sociopolítico”. Toda a Igreja é convidada a fazer esse processo de conversão, desde os Pastores, os “consagrados, os catequistas, os missionários, os seminaristas, os leigos e os próprios jovens”. Isso significa que nossas paróquias e comunidades devem passar “de uma ‘pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária’”, dinâmica, inclusiva. Quer dizer: as atividades que já existem, devem até continuar, mas é preciso usar da criatividade para fazer a Igreja sempre nova, onde todos os jovens poderão ser ajudados e assim cresçam como discípulos e missionários.
Continuaremos amanhã o tema da conversão. Fique na paz de Deus e tenha um dia abençoado.

Ir. José Torres, CSsR.
(CF 2013 - Fraternidade e Juventude: Terceira Parte, “Converter-se aos Jovens”, p. 85 - 88).

terça-feira, 12 de março de 2013

CF 2013: Protagonismo e a justa relação entre fé, razão e ciência


Continuemos a nossa conversa sobre o último ponto da segunda parte do texto-base da CF. Trata-se do “protagonismo e a justa relação entre fé, razão e ciência”.
O Documento Evangelização da Juventude “nos provoca a refletir sobre a urgente necessidade de ajudar nossos jovens a articular com maior clareza, a certeza da fé e as novas compreensões científicas e filosóficas da racionalidade contemporânea”. Quer dizer, precisamos ajudar os jovens a alicerçarem e expressarem a sua fé de modo que eles tenham clareza daquilo que creem, para que não sejam confundidos por outras vozes que enganam e oferecem explicações deturpadas, levando muitos a esfriarem a fé ou se tornarem ateus. As explicações sobre as realidades da fé, nos dias de hoje são mais exigentes porque, as ciências fizeram novas descobertas, o pensamento humano trouxe novas questões a serem pensadas. Essas novas questões precisam de novas respostas, novas posturas. Aos poucos, as compreensões que temos a respeito da vida e do ser humano vão se modificando. Então, muitos daqueles que querem “descobrir a razão da existência humana”, o sentido da vida, das coisas, querem entender tudo isso sem considerar os dados da fé, dizendo Deus não existe porque não se pode provar sua existência e que o ser humano não necessita da fé ou da relação com Deus para viver no mundo. Isso vai confundindo os jovens, “especialmente os que se encontram em ambientes universitários”.
No meio universitário, há uma onda crescente de jovens contaminados por essa onda que se vangloriam por serem ateus, dizendo que quem é inteligente não precisa acreditar na existência de Deus. Não precisa de religião, de mediação, porque para eles, depois da morte, não existe mais nada além dela; a fé não tem nenhuma importância, basta a razão, basta ser inteligente.
A razão é a capacidade humana que nos “permite chegar a conclusões a partir de suposições ou premissas”; é essa capacidade que nos faz explicar as coisas e acontecimentos, formar conceitos, “resolver problemas”, detectar “coerência ou contradição”. Resumindo, a razão pode ser entendida como a capacidade de “raciocinar, aprender, compreender, ponderar e julgar”, que pode ser também entendido como “inteligência” (Wikipedia).
A é uma atitude de confiança e aceitação de verdades que não podemos constatar pela experiência; ter fé em Deus é confiar e aceitar como verdadeira a Palavra de Deus e aderir ao seu conteúdo, viver de acordo com os seus ensinamentos; é acreditar em Deus como verdade real, embora não a experimentemos de forma empírica. Quem tem fé, enxerga além daquilo que os olhos vêm. “No judaísmo bíblico, a fé é a atitude fundamental do homem para com Deus, baseado na fidelidade ou lealdade de Deus e na entrega confiada do homem” (Dicionário Básico das religiões, P. R. SANTIDRIÁN).
Fé e razão podem conviver juntas; a inteligência ajuda a conhecer e entender Deus; a fé, ajuda a entender e melhor as realidades do mundo, como a política, o corpo humano, os sofrimentos dos povos, o trabalho... Enfim, fé e razão podem caminhar juntas. Santo Alberto Magno já dizia: “A mais nobre força do ser humano é a razão. A mais alta meta da razão é o conhecimento de Deus” (Youcat, N.5), que acontece pela fé. Fé sem razão, pode virar superstição, desequilíbrio e a razão sem a fé vira prepotência, empobrece a existência humana (se você quiser conhecer mais sobre isso, veja no Catecismo feito para os jovens, chamado “Youcat” nos números 4, 5 e 6).
A Igreja precisa adentrar nos “ambientes acadêmicos públicos e privados do nosso país”, afinal, no passado, ela deu uma contribuição enorme no “desenvolvimento racional, científico e tecnológico da humanidade”. Nossos jovens precisam conhecer mais sobre essa contribuição da “Tradição e do Magistério da Igreja” para assumirem, “no meio universitário, seu papel de missionários qualificados”.
Amanhã, vamos iniciar o terceiro capítulo do texto-base da CF. Muita  Graça e luz em sua vida!

Ir. José Torres, CSsR.

(CF 2013 - Fraternidade e Juventude: Segunda Parte, “Protagonismo e justa relação entre fé, razão e ciência”, p. 84).

segunda-feira, 11 de março de 2013

Cf 2013: Protagonismo e compromisso na sociedade


Estamos conversando sobre o “protagonismo dos jovens”, que se encontra no segundo capítulo do texto-base da CF. Ontem, falamos sobre dois pontos importantes para este protagonismo: a vida em comunidade e a experiência religiosa. Hoje vamos falar sobre “protagonismo e compromisso na sociedade”.
“A opção pelos mais empobrecidos e pelos sofredores não pode ser apenas uma ‘opção’ de alguns”, pois é uma “opção evangélica” e por isso deve ser também uma opção de toda a Igreja. Por isso, os jovens são convocados a trabalharem para que nossa sociedade tenha frutos de justiça, fraternidade e solidariedade. Nesse sentido, a formação para a cidadania é essencial para que o jovem tenha “consciência de seus direitos e de suas responsabilidades”. E para ajudar a juventude nesse processo de conscientização, é necessária a sua participação nos Conselhos de Juventude que existe em todos os Estados do Brasil. Cada moça e rapaz tem o direito e o dever de participar nesses Conselhos. Os Conselhos de Juventude tem “entre suas atribuições, a de formular e propor diretrizes voltadas para as políticas públicas de juventude, desenvolver  estudos e pesquisas sobre a realidade socioeconômica dos jovens e promover o intercâmbio entre as organizações juvenis nacionais e internacionais. É um espaço importante a ser ocupado para que a juventude conquiste o melhoramento das condições de vida. “O Documento da CNBB Evangelização da Juventude constatou que muitos de nossos jovens têm assumido seu papel em nossa sociedade e têm estimulado o crescimento dessa participação”. Mas é muito importante que essas iniciativas sejam estimuladas e apoiadas para que aqueles que ainda não participam, possam se aproximar e deem sua contribuição.
o compromisso social da juventude deve tocar também nos problemas do desenvolvimento humano. Os “processos de educação na fé, precisam também despertar para a defesa de toda forma de vida que nos rodeia.” O desenvolvimento moderno trouxe a extinção de formas de vida, o “aquecimento global, a poluição ambiental”. A ecologia deve estar presente como preocupações juvenis, é preciso descobrir “meios para minimizar os efeitos negativos ao impacto ambiental”.
Outro compromisso social dos jovens é com a “juventude empobrecida que, sem possibilidades de acesso a um ensino de qualidade, sem perspectiva de empregos dignos, vive em uma sociedade marcada por um escandaloso abismo entre os mais ricos e os mais pobres,” pela fragmentação da família, pelo consumismo e por outras formas de violência. É essencial o empenho dos jovens na erradicação do tráfico de drogas, a violência e a “exclusão social juvenil”.
A CF deste ano convida os jovens e toda a Igreja a utilizarem da sua criatividade juvenil e da sua alegria contagiante para “cuidar melhor do jovem sofrido, abrindo-lhes os braços da caridade e as portas da inclusão. O Documento de Aparecida convida a Igreja a ser uma verdadeira casa e escola de amor e de comunhão”. O número 358 diz assim: “as condições de vida de muitos abandonados, excluídos e ignorados em sua miséria e sua dor, contradizem este projeto do Pai e desafiam os cristãos a um maior compromisso a favor da cultura da vida. O reino de vida que Cristo veio trazer é incompatível com essas situações desumanas. Se pretendemos fechar os olhos diante dessas realidades, não somos defensores da vida do reino e nos situamos no caminho da morte: ‘nós sabemos que passamos do caminho da morte para a vida porque amamos os irmãos. Aquele que não ama, permanece na morte”.
As estruturas da Igreja devem se empenhar com os jovens no compromisso de conquistar “espaços de encontro e de reflexão acerca de sua realidade” para melhorar sua situação de vida. E assim, o protagonismo dos jovens vai fazendo acontecer as grandes transformações sociais que vão fazer do mundo um lugar mais parecido com o Reino, o lugar onde mora Deus.
Amanhã, vamos comentar o último ponto da segunda parte do texto-base da CF. Vamos falar sobre o “protagonismo e a justa relação entre fé, razão e ciência”. Que Deus abençoe você. Até amanhã!

Ir. José Torres, CSsR.

(CF 2013 - Fraternidade e Juventude: Segunda Parte, “Protagonismo e compromisso na sociedade”, p. 81 - 83).

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