Em tempos de eleições, posando de
honesto, ético e correto, vejo muita gente expressa impropérios sobre o ato de
votar. Formadores de opinião, gente religiosa, pessoas estudadas, ouço dizer:
"faça a escolha certa na hora de votar..."; "não vote em
ladrões..."; "escolha quem é honesto..."; "a situação atual
do Brasil é fruto das nossas escolhas..." Esses e outros clichês
você deve ter ouvido ou dito muito nesses últimos dias. A conclusão que se ouve é a seguinte: se há corruptos no governo, a culpa é do eleitor que os escolheu. Para mim, é um "des-serviço" à democracia acusar o eleitor dos desmandos dos políticos.
Pra começar, pergunto: o que é votar certo? Significa votar em quem? No PT? no PSDB? No PSB...? Quando digo "vote certo", o que mesmo estou querendo dizer? Em quem estou pensando? Se faço tal afirmativa é porque o meu candidato é o mais indicado. Isso é "votar certo"? Ao escolher o candidato que me parece mais honesto, ele está livre de atos de corrupção? Escolher certo é escolher quem?
Pra começar, pergunto: o que é votar certo? Significa votar em quem? No PT? no PSDB? No PSB...? Quando digo "vote certo", o que mesmo estou querendo dizer? Em quem estou pensando? Se faço tal afirmativa é porque o meu candidato é o mais indicado. Isso é "votar certo"? Ao escolher o candidato que me parece mais honesto, ele está livre de atos de corrupção? Escolher certo é escolher quem?
Quando digo pra não votar em "ladrões", estou falando apenas daqueles
que já foram descobertos? E os que roubam mas não sabemos? Os honestos são
aqueles que não tiveram suas atitudes incongruentes anunciadas na mídia?
Sabemos que é muito difícil saber quem é honesto de verdade, porque quem não o é age na "calada da noite". Sabemos da
(des)honestidade de alguém pela mídia que hoje se apresenta como a mais desonesta fonte de informação. Não é possível ter certeza da honestidade de nenhum político. Se
somos surpreendidos até com pessoas que convivem conosco, imagine com
políticos. Aqueles de quem não temos más notícias, continuam sendo referências
para nós, mas não podemos ser ingênuos e acreditar que no sistema em que
vivemos é seguro que nosso voto tenha sido dado a um candidato honesto.
Amigos, as escolhas políticas são
subjetivas. O problema é que vemos nossas opções políticas com o senso comum e ingenuidade a ponto de expressar clichês como se fossem verdades inegociáveis. Daí, não sabemos ser justos e imparciais
no julgamento das atitudes dos nossos políticos e, nossas avaliações, na maioria
das vezes não tem criticidade, seriedade, racionalidade.
O despautério está na falácia dos clichês irresponsáveis que acusam o eleitor
de ser o causador das mazelas do país. Dizem: se há político desonesto, foi
porque você o escolheu nas urnas, portanto, você errou o voto e torna-se o
responsável pela situação caótica em que vive o país.
Comete um desserviço à democracia aqueles que bradam acusações contra as
escolhas dos eleitores. Ao fazer nossas escolhas, estamos confiando em alguém que irá
nos representar no mundo político para que nossas propostas sejam efetivadas e
promovam o bem social. Ora, ao escolher um candidato que parece ser honesto e, se após eleito ele for acusado de atos de corrupção, a culpa não é do eleitor,
afinal, a má ação é de inteira responsabilidade de quem a pratica. Aquele que foi escolhido democraticamente tem a obrigação de ser honesto e
dedicado ao serviço público. O eleitores não podem escolher os “ficha-sujas”,
mas não são culpados pelos atos danosos dos corruptos. Precisamos
acabar com esse discurso “fácil” que coloca o fardo pesado nas costas do
eleitor. Quem roubou seja punido.
Votar é escolher alguém que assumirá uma responsabilidade conosco, o voto é uma
aliança, um compromisso entre duas partes: ele se compromete com o bem da
comunidade e eu me comprometo em avalia-lo e cobrá-lo pelos serviços que me
prometeu. Em outras palavras, o compromisso político é como o casamento: se não
houver presença, proximidade e compromissos entre as partes, será dissolvido, quebra-se a relação. É
preciso votar e permanecer conectado com o representante eleito. Acontece que,
depois das eleições os eleitores esquecem os políticos e esses, sorrateiramente somem do
dia-a-dia da população, sem que os eleitores exijam prestação de contas: não
cobram, não avaliam suas ações, não procuram saber onde estão, se trabalham, o
que fazem. Assim, alguns formadores de opinião, posando como responsáveis pela
condução da democracia, bradam clichês conservadores tais como: “o
seu voto muda os rumos do país”. Desconfio desses dizeres. Não é apenas o voto que transforma uma realidade, o que muda é presença ativa, comprometida, a participação na vida política.
Devemos exigir reparação, precisamos protestar, sugerir, interferir, debater, acompanhar os projetos. Não
podemos ficar desligados da política após as eleições. O nosso maior compromisso vem depois da escolha dos nossos candidatos: se não estamos em sintonia
com eles, estamos sendo obstáculos à construção e evolução da sociedade. O
problema da corrupção e tantos outros não está somente na escolha dos políticos,
está na ausência e distância entre os políticos e os eleitores após o pleito. Portanto,
nosso compromisso político-eleitoral começa nas urnas e continua a partir de
janeiro, quando devemos acompanhar as ações dos nosso governantes. Não nos
empolguemos com a beleza da Democracia que nos dá o direito de votar, isso não muda
nada, se ficarmos esperando que nossos representantes pensem e ajam por nós.
Não
desmereço os cuidados na escolha de pessoas honestas e
adequadas para a tarefa política, mas de nada valerá o esforço sem
o constante acompanhamento do eleitor às ações dos políticos eleitos. Quem sabe
a partir disso deixemos um pouco de lado o velho clichê que acusa o eleitor dos
crimes do políticos corruptos. Oxalá, não sejamos preguiçosos e nos
comprometamos com a democracia que exige compromisso dos dois lados. Escolha
com responsabilidade, vote sem medo, respeite os que forem eleitos. As escolhas
nas urnas podem ser subjetivas, mas as necessidades que temos são concretas e é
com estas que devemos lidar, lutar, reivindicar e protestar.
É fácil dizer ao eleitor que ele errou
o voto. Mais honesto e eficaz é comprometer-se com o povo junto com ele cobrar
dos políticos a execução dos projetos, protestar por melhorias na educação, na
saúde, na cultura, na segurança... Mover-se depois das eleições garante o país
mais justo que tanto desejamos.