Hoje é dia de Natal. Muita festa
rolou em todas as partes do mundo. Desde as famílias mais simples até as
mansões mais luxuosas. E onde há festa, há alegria. Onde há festa também há
lixo. O luxo produz muito lixo. O lixo é o incômodo do luxo. O luxo descarta o
lixo mas o lixo resiste ao luxo.
Jesus nasceu no lixo. O que é a
manjedoura senão um lugar insalubre e perigoso, mal cheiroso e sem o essencial
para sequer descansar? Mesmo assim, foi lá ao relento, na poeira e o no frio
que nasceu Jesus; no lixo, descartado, onde o luxuosos sacerdotes do templo
sequer ousavam passar. Celebrar o nascimento de Jesus é entender essa dinâmica
nas relações do mundo de hoje. O luxo vê e sente os seus subalternos como lixo,
por isso os descarta.
Mas, embora grande parte dos que vivem no luxo não sejam
cristãos e não tenham relação com religião, no tempo do Natal, eles ficam “bonzinhos”,
falam de caridade, de fraternidade, de união... e fazem algumas doações para os
pobres. Mas eles não se envolvem, pagam um “papai Noel”, compram brinquedos,
fazem uma festa e divulgam na imprensa. Na visão do luxo, o lixo só precisa de
carinho, de atenção, de consolo porque nasceram destinados a sofrer. Afinal - pensam
os ricos - de quem é a culpa da situação de miséria se os “deuses” nos fizeram ricos
e pobres?
Mas o luxo é interesseiro, nunca
gasta um centavo se não for para ganhar mais. Como exemplo veja o gesto
natalino do governo brasileiro: qual o presente que ele deu às empresas de
telecomunicações? Dizem que o presente que ele vai dar para as Teles chegou a
custar 105 bilhões; e não sei se movido pelo “ano da misericórdia”, a proposta
é perdoar uns 20 bilhões de multas que elas deveriam pagar para o povo
brasileiro. E qual o presente que o mesmo governo deu para nós? Um “pacote”...!
Adivinha o que tem dentro...? Uma continha, uma fatura de mais de 170 bilhões
pra gente pagar. É assim que o luxo vê os seus trabalhadores, como escravos, mão
de obra barata para o aumento do luxo dos ricos, como “não merecedores” do fruto
do seu trabalho, como “lixo”. Gente, quando o “luxo” governa, quem não é “luxo”
é tratado como “lixo” e é descartado. O “luxo” nos vê como “lixo”, sempre foi
assim. Quando a gente aposta nos governantes do “luxo”, a expectativa é que aumente
o “lixo”.

Em tempos onde o luxo produz lixo
sem limites, há necessidade de reciclagem. E a reciclagem nada mais é que
admitir que o lixo tem valor, o lixo tem poder, o lixo que foi descartado precisa
ser transformado e reaproveitado. Mas o nascimento de Jesus não nos recicla, porque
reciclagem apenas coloca o “lixo” no lixo, separa por valores, organiza pela
utilidade que ainda resta, sempre com o objetivo de reverter o lixo em lucro. O
Nata de Jesus propõe outro movimento: a gratuidade! Nada de lucro, ao invés de “reciclar”,
é preciso humanizar, devolver a dignidade, recuperar, restabelecer pontes,
descer do “luxo” para reconhecer que todos os seres humanos são iguais, que o “lixo”
é fruto da ambição e do egoísmo; sem “luxo” e sem “lixo”; simplesmente ser humano
dependente dos demais.
Quer um exemplo? Na manjedoura
está aquele que desceu do céu e não se apegou à sua divindade, mas com amor
gratuito “rebaixou-se” até o “lixo” da nossa humanidade e deu aos sobreviventes
do lixo uma nova dignidade. Ele preferiu a fecundidade do “lixo” que gratuitamente
faz brotar nova esperança do que a esterilidade do “luxo” que na ambição do
lucro escraviza e mata a vida. Porque fecundidade é “coisa” dos pobres. O “luxo”
não se sente necessitado disso.
PENSE NISSO!
ABRAÇO!